O estilo das meninas das favelas é um reflexo da personalidade, da cultura e das raízes que elas carregam. E nestes espaços, a moda ganha um significado ainda mais profundo, já que mistura autenticidade, criatividade e resistência.
Vale destacar que em cada região do nosso país, o estilo das meninas das favelas tem suas particularidades. Por exemplo, em Belo Horizonte, temos as tchucas e bebels; no Rio de Janeiro, a estética de cria ecoa dentro das comunidades, enquanto em São Paulo, as minas chavosas e mandrakas se destacam, assim como temos o visual planetário, com looks da Planet Girl, que conecta jovens de todo o Brasil.
Então, já que a moda feminina nas favelas é tão plural, vamos explorar melhor cada uma delas e suas raízes?
O que é moda periférica?
A moda periférica é marcada por elementos que surgem nas ruas, nos bailes e nos contextos sociais das favelas, geralmente fugindo dos padrões impostos pela indústria do vestuário e com forte valorização da autenticidade do povo periférico.
Ou seja, mais do que roupas, a moda periférica representa a força das comunidades em ditar tendências a partir de sua história, vivência e contexto social, sendo muitas vezes apropriada por marcas de luxo e movimentos da moda tradicional.
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E como é vista a moda na periferia?
Dentro da periferia, a moda é vista como uma poderosa forma de expressão cultural e social, pois é um reflexo do contexto, das histórias de vida e da criatividade de seus moradores.
Justamente por isso ela carrega autenticidade, resiliência e originalidade, pois transforma roupas, sapatos e acessórios em símbolos de identidade e pertencimento.
Porém, fora das comunidades a cena muda, já que a moda e o estilo das meninas das favelas é marginalizada ou vista de forma estereotipada, geralmente associada ao contexto socioeconômico das periferias.
Estilo das meninas das favelas: tchuca, bebel, mandrake, chavosa, cria e planetária
Quando falamos do estilo das meninas das favelas, falamos de uma moda que frequentemente é alvo de preconceitos e estereótipos, com julgamentos morais e até mesmo de questões mais profundas, como racismo e exclusão social.
No entanto, é preciso rever essa descriminalização, afinal, cada peça usada e cada tendência que surge das quebradas, carrega um significado que vai além da moda.
Na periferia, vestir-se com o estilo das meninas das favelas é sobre pertencimento, sobre orgulho da origem e sobre a capacidade de transformar o cotidiano em arte e expressão.
Justamente por isso, neste artigo, a partir de agora, exploraremos as principais estéticas e estilo das meninas das favelas brasileiras, evidenciando como cada cidade tem uma identidade única na forma em que as mulheres se vestem.
Estilo Bebel e Tchuca, em Belo Horizonte
O estilo das meninas das favelas de Belo Horizonte é marcado por dois termos bastante populares: Bebel e Tchuca.
Cada um carrega elementos distintos que refletem aspectos culturais e sociais da cidade, além de mostrar como as mulheres de periferias mineiras se expressam por meio da moda.
O que é estilo Bebel?
O nome Bebel, inicialmente, era usado de maneira informal por homens de Belo Horizonte para se referir às mulheres que se destacavam por sua beleza e por usarem roupas chamativas.
Mas além disso, a origem do nome está ligada a duas personagens famosas da ficção: a Bebel da novela Paraíso Tropical e a Bebel do seriado A Grande Família.
Ambas eram mulheres poderosas, de atitude, com a Bebel, de Paraíso Tropical, se destacando por ser um forte símbolo de sensualidade, o que se reflete no estilo das meninas das favelas que adotam esse nome.
Itens que compõem o estilo Bebel
- Franja
- Poliamida (tecido comum roupas de academia)
- Piercing microdermal
- Piercing de sobrancelha
- Extensão de cílios
- Sobrancelha marcada
- Correntes prateadas ou douradas
E o que é estilo Tchuca?
O Estilo Tchuca, por sua vez, combina elementos do streetwear feminino com o conceito de moda confortável e prática, com mais foco na autonomia e na funcionalidade ao se vestir.
Amanda Gomide, mineira e criadora da marca Agomide, que ela diz ser “para todas as tchucas”, em entrevista a UOL, definiu o estilo e personalidade dessa estética assim:
“Tchuca é uma menina independente, mesmo que às vezes não seja um corre fácil. Isso significa que é uma pessoa que desembola. Mas não aquela coisa romantizada, é uma pessoa de ação.”
Itens que compõem o estilo Tchuca
- Tênis
- Macaquinhos de academia
- Calças largas
- Saia cargo
- Blusas oversized
- Acessórios casuais e despojados
Chavosa ou Mandraka, em São Paulo
Mandraka é a versão feminina do estilo Mandrake, um termo que veio das quebradas paulistanas e da Baixada Santista.
O nome Mandrake vem do personagem do universo pop, simbolizando alguém sagaz e astuto, que domina os códigos da vida urbana periférica.
E, para as meninas, o termo reflete um estilo marcante e cheio de atitude, com um bom toque de rebeldia.
O que Mandraka usa?
- Óculos juliet
- Camiseta de time de futebol
- Tênis de 12 molas
- Tênis Mizuno
- Correntes de ouro ou de prata
- Roupas da marca Cyclone
- Boné da marca Lacoste
- Boné de crochê
- Óculos Dart
Referências no estilo Mandraka/Chavosa
O estilo de Tasha e Tracie é uma das maiores referências de Mandrakas que temos atualmente.
Ao se vestirem nesta estética, elas se destacam além da música, mas também pela maneira como expressam sua individualidade através da moda.
E como para elas a música e a moda são uma via de mão dupla, já que as gêmeas cantam sua vivência como mulheres negras que vieram da periferia de São Paulo, é comum vermos elementos do estilo Mandraka sendo citados em suas letras, como neste trecho de “Arrume-se Comigo”:
“A noite o kit muda, SP o tempo inverte
Vou lançar a legging da Tommy e a Planet 97
Camisa de time, cortei e fiz de cropped
Valia 300, vira 10K com meu toque (plim)
Mãozinha de midas, terça calçando Adidas
Reunião de negócios, Gucci com a minha Dart
Por aqui sua conta mudou
Entendeu vidas?
Nós vai ser sempre Drake diferente dessas fraude”
Estética de cria, no Rio de Janeiro
Ao chegarmos no estilo das meninas das favelas do Rio de Janeiro, chegamos no estilo de cria.
O termo cria refere-se especificamente a quem nasceu e cresceu nas favelas do RJ, aquele que tem uma conexão profunda com o ambiente e as vivências da periferia.
Ou seja, essa estética é uma mistura de referências culturais das favelas do Rio de Janeiro.
E aqui, vale destacar que esse estilo das meninas das favelas também está profundamente ligado à moda Y2K, ou seja, a moda dos anos 2000, como uma celebração do passado.
Como ficar no estilo cria?
- Camiseta de time
- Kenner de cria
- Óculos juliet
- Conjuntos femininos de lycra
- Shorts jeans desfiados
- Calça da Gang
- Calça jeans masculina larguíssima
- Biquíni de fita
- Minissaia
- Tênis 12 molas
- Conjuntos da marca Cyclone
- Cordão de ouro
Referências no estilo de cria
Anitta e Bella Campos são duas famosas referências nesse estilo, mesmo que atualmente esse não seja o estilo definitivo delas.
Para Anitta, em especial, vestir-se com esse estilo das meninas das favelas é, de certa forma, uma homenagem à cultura do funk, de onde ela veio.
Por exemplo, em 2022, em seu aniversário de 29 anos, a cantora fez questão de destacar esse estilo ao usar um conjunto da Bad Boy em sua festa, um look que costumava ser uma febre nos anos 2000.
Planetárias, em todo Brasil
O que é planetária? Bem, elas são mulheres periféricas de todo Brasil que se tornaram fãs fervorosas da Planet Girls, transformando-se em um símbolo de fidelidade à marca.
Ou seja, elas não são apenas usuárias comuns dos produtos, pois formaram uma verdadeira comunidade em torno da Planet Girls.
Neste cenário, vale destacar que a marca foi originalmente criada para a classe média, lá em 1997, e contava com rostos como Bruna Marquezine para divulgá-la.
Mas, nos últimos anos, ela encontrou nas periferias um nicho fiel, particularmente após a ascensão do funk ostentação.
De acordo com o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Gabriela Alves, intitulado “Planetárias: A fidelidade à marca Planet Girls”, a identificação com a marca e a construção de autoestima são sentimentos fortes neste estilo das meninas das favelas.
Elas afirmam que, ao vestirem as peças da Planet Girls, sentem-se representadas e conectadas com sua identidade.
Contudo, há críticas por parte deste nicho de clientes quanto ao preço elevado dos produtos, que pode afastar algumas consumidoras, além da falta de representatividade nas campanhas publicitárias.
Itens que compõem o look das Planetárias
- Jaqueta dupla face (o item mais marcante do estilo)
- Polo de cropped
- Cropped de poliamida
- Penteados com tranças
- Acessórios prateados
- Tênis Mizuno 12 molas
- Estampas de onça
- Calça jeans com estrelas desenhadas
Referências do estilo Planetária
Ao falarmos de referências do estilo planetária, o destaque fica todo para Luana Maia.
A cantora incorporou o conceito planetária além de seu estilo, levando também para suas músicas, em que faz uma conexão entre o funk e a moda periférica.
Nessa pegada, ela teve até mesmo o seu clipe financiado pela Planet Girls.
Conclusão
O estilo das meninas das favelas de todo Brasil reflete uma fusão única de identidade, cultura e resistência, que vai além da moda como simples tendência.
Esse fenômeno todo tem uma base sólida na busca por pertencimento e reconhecimento, em que os elementos da moda se tornam símbolos de força, autoestima e orgulho de sua representação social.
E aqui, a moda não anda só.
Como você viu ao longo deste texto, o funk e o hip hop, pilares dessas estéticas, desempenham um papel crucial no ato de se vestir, sendo uma forte fonte de inspiração para mulheres da periferia.
Deste modo, elementos do funk, do rap e de sua vertente, o trap, como a ostentação, a sensualidade e a resistência, se manifestam além das letras, mas também no estilo das meninas das favelas e em seus comportamentos.
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