A camiseta de time como tendência de moda foi algo que nasceu na periferia, caiu no gosto das grifes e agora faz parte do estilo de fashionistas. Mas afinal, como chegamos a isso?
O jogo virou
Quando falamos em criação de tendências de moda, o fluxo geralmente é: grandes grifes pesquisam comportamentos, lançam a tendência, ela é usada pela elite, se torna massificada e então cai em desuso para uma nova surgir. Mas quando o assunto é a camiseta de time como tendência de moda, o fluxo foi o contrário.
O drible da periferia
A camiseta de time como tendência nasceu na periferia, onde sempre foi considerada artigo de luxo. E esse não é um movimento só nosso, país do futebol, mas também das favelas europeias.
Isso porque o futebol sempre foi muito forte dentro das periferias e, além disso, rappers, trappers e funkeiros, que geralmente nasceram nesses espaços, também já usavam esses modelos de camisetas e inspiravam o estilo dos moradores.
Naipe de grife, pique de jogador
Então as camiseta de time como tendência nasceram nas periferias, mas nos últimos tempos elas viraram desejo até mesmo para quem não gosta do esporte ou não tem um time. E esse fenômeno nós devemos às grifes, que se empenharam a colocar ela no radar das tendências.
Jogando de terno
A Balenciaga é um dos principais nomes que podemos citar como responsável dessa popularização, pois na sua coleção de Outono/Inverno 2020 a grife francesa lançou uma camiseta com um brasão de time com símbolo da marca. Essa camiseta era inspirada nos modelos de futebol, mas se fosse oficialmente de um time, seria a mais cara da história, pois custava R$ 4.300.
Liga dos campeões
E se a Balenciaga criou uma camiseta de time com o brasão da grife, marcas como Nike e Adidas se dedicam a criar modelos de camisetas para times reais, como o uniforme do Corinthians da última temporada, que foi lançado pela Nike com a campanha “Vai na Alma” e a parceria da Adidas com o Real Madrid.
No time das grifes, Giorgio Armani já também produziu uniformes com a marca EA7 para o Napoli, enquanto a Versace, em 2018, lançou a interpretação de uma camisetas de time mais cara do mundo, que custava R$ 2.500 e foi vencida pelo lançamento recente da Balenciaga.
Várias camisas 10
Entretanto, o futebol também se beneficia da moda, afinal, se o lançamento das camisetas apresentarem boas vendas, isso gera uma ótima receita para o clube. Não é à toa que hoje todos os times têm camiseta principal, tradicional, de visitante, de jogo e afins.
Gol de placa
E além das periferias e da alta costura, a camiseta de time como tendência também foi alavancada pelas redes sociais, principalmente pela proximidade da copa. Nesse cenário, o britânico Brandon Huntley foi um dos responsáveis por impulsionar essa tendência no Tik Tok, montando looks com camisetas de futebol com uma estética vintage e influenciando seus 30 mil seguidores a adotarem o estilo.
Hoje tem gol do Bloke Core
Graças às redes sociais a tendência da camiseta de futebol ganhou até um nome: Bloke Core. Esse nome surgiu de uma gíria inglesa que se refere ao homem comum, algo como “bro” americano e “mano” brasileiro, enquanto “core” é um termo que define uma tendência estética. E esse rótulo faz todo sentido, afinal, esse estilo é justamente sobre se vestir com o visual de um homem médio que vai a uma partida de futebol.
Placar final: apropriação
Por fim, a grande polêmica por trás das camiseta de time como tendência fashion é que quem criou esse visual, ou seja, a população preta e periférica, é considerada desleixada ao usá‑la, enquanto grifes, fashionistas, influencers e não‑torcedores não são alvo de preconceito por adotarem essa moda no cotidiano.
Portanto, é preciso ter uma visão ampla do reflexo da alta costura transformar as camisetas de time em tendência, que implica em:
‑ mais uma apropriação de uma tendência criada pela periferia;
‑ o significado das camisetas de time é esvaziado;
‑ a origem da criação da tendência é apagada;
‑ uma forma indireta de contribuir para a elitização do futebol.
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