O legado de Virgil Abloh está atrelado a sua missão: devolver o streetwear à cultura negra e o reapropriar do que a branquitude havia feito com ele.
Neste domingo (28/11/2022) a moda se despediu do estilista CEO da Off White e diretor artístico do masculino da Louis Vuitton e para honrar o seu trabalho, apresentamos aqui alguns pontos do seu legado.
Mais uma apropriação para a conta
Desde os anos 1970, a elite da moda se propôs a tirar o streetwear de suas raízes da cultura negra. O plano era o inserir em corpos brancos, mudar a narrativa de “roupa de pobres” ou “roupa de favelados”, o tornar hype e inacessível aos seus criadores negros. O plano deu certo até certo ponto.
Sente o drama, o preço, a cobrança
Clientes brancos das grifes abraçaram o streetwear, pagaram caro por ele e foram elogiados pelo estilo. Mas a comunidade negra não abriu mão do street e seguiu pagando um preço alto por isso, como no caso de Trayvon Martin, adolescente afro‑americano que em 2012 saiu de sua casa, na Flórida, para comprar doces e foi morto a tiros, pois segundo seu atirador, ao vestir moletom com capuz ele parecia suspeito.
Chegou chegando
No mesmo ano deste assassinato legado de Virgil Abloh para a cultura negra começa a ser construído. O estilista negro e filho de pais imigrantes ganenses fundou a Off‑White com influências do hip hop, grafite e skate.
Sua proposta era mostrar o streetwear em uma marca de luxo comandada por um homem preto, disposto a resgatar as raízes do estilo e o desvincular do imaginário das pessoas como uma moda das ruas e do crime. A Off‑White foi um sucesso, considerada hoje a 2º a marca mais popular do mundo, segundo a Lyst.
Próxima parada: Louis Vuitton
Esse sucesso inicial do legado de Virgil Abloh a cultura preta o levou a ser o primeiro estilista negro a ser nomeado diretor artístico das coleções masculinas da Louis Vuitton. No novo espaço, Abloh seguiu com a missão de resgatar a identidade preta na moda e dar luz a ela. Seu primeiro desfile para a grife apresentou uma alfaiataria africana e teve 14 modelos negros, além dos rappers ASAP Nast, Kid Cudi e Playboi Carti.
Diversidade: a peça que faltava
Sua vontade de amplificar a cultura negra também foi destaque em sua coleção de 2021 para a Louis Vuitton. Desta vez, enquanto modelos negros desfilavam as peças, o poeta afro‑americano Saul Williams recitava um texto de 1953 do escritor James Baldwin, no qual ele discorre sobre sua experiência de estar em um vilarejo na Suíça onde nunca haviam visto um negro. Um grande marco no legado de Virgil Abloh!
Muito além da moda
Para além de recontar a história de seu povo através da moda, Virgil também agia por fora das passarelas. Quando houve o assassinato de George Floyd, por exemplo, o estilista fez um leilão do seu tênis Air Jordan 4 x Off‑White e arrecadou aproximadamente R$ 1 milhão para o movimento Black Lives Matter.
Ser um preto tipo A custa caro
O legado de Virgil Abloh para a comunidade preta também merece destaque de quando ele bancou do seu próprio dinheiro e do grupo LVMH (conglomerado de luxo dono da Louis Vuitton) bolsas de estudo que financiavam a faculdade de moda de jovens negros e afro‑americanos que não tinham condições de arcar com os altos valores das universidades nos Estados Unidos.
Desafio cumprido com sucesso
Virgil faleceu de uma espécie rara de câncer no coração, pelo qual ele escolheu batalhar em particular. O estilista deixa um legado importante na moda, primeiro de resgate de um estilo criado pela comunidade negra, depois das vezes em que contou história do povo preto através de suas criações e, por fim, pela representatividade de ser quem era e chegar no topo da moda e, de lá de cima, investir para que os seus tivessem a mesma chance que ele.
