Dapper Dan é um nome importante e que abriu portas para Rihanna, Virgil Abloh, Pharrell, Kanye West e tantas outras figuras da cultura negra que hoje se destacam no mundo da moda de luxo.
Impressiona no estilo de patife, artigo de grife
Nascido no Harlem, em Nova York, em 1944, Dapper Dan é um estilista que carrega uma trajetória que começou com o abandono escolar e envolvimento no crime.
Sua história teve uma reviravolta quando participou de um programa educacional patrocinado pela Universidade de Columbia e fez uma viagem à África em 1974.
Foi justamente nessa viagem que ele retornou para Nova York com interesse pela moda, resultando na abertura de sua própria loja que funcionava 24 horas por dia, durante os 7 dias da semana.
Assim, entre as décadas de 1980 e 1990, Dan se tornou um ícone da moda entre a comunidade negra, graças à sua loja no Harlem.
Isso porque em suas roupas ele unia a alta costura com a cultura hip-hop, combinando o estilo de gangsters com marcas de luxo.
Essa união de estilos o levou a vestir nomes como Mike Tyson, Run DMC, LL Cool J, Bobby Brown, e muitos outros, introduzindo a moda de luxo na comunidade negra.
E essa fama consagrou Dapper Dan como criador do estilo Gangster Chic, mas também como o “Rei das Imitações”, por conta das características únicas de suas criações.
Customizando a peça que faltava
A marca registrada do trabalho de Dapper Dan era a aplicação de logomarcas de grifes, como Gucci, Louis Vuitton e Fendi, em conjuntos completos de couro.
Para fazer isso, ele aprimorou uma técnica de estampagem de logotipos de marcas de renome em peças de couro, indo desde roupas e calçados até estofados de carros.
Essas criações combinavam os estilos preferidos dos moradores do Harlem ou artistas negros da época com o requinte das grifes de alta costura, resultando em uma estética singular.
Neste sentido, Dan preencheu um nicho de mercado na moda que até então era subestimado pelas grandes marcas: o mundo do rap e hip-hop, dominado por pessoas negras.
Toda essa inovação e autenticidade atraíram uma clientela crescente, solidificando sua marca como uma casa de alta costura no meio da periferia.
Logomania: o começo de uma era
Foi em seu ateliê no coração do Harlem que Dapper Dan se consagrou como o criador da logomania ao misturar o estilo das ruas com o luxo das grifes.
Suas logos preferidas de estampar nas roupas, sapatos e estofados de carros eram da Gucci, Louis Vuitton e Fendi, trazendo essas marcas de luxo ao público de uma forma totalmente nova e original, que as próprias marcas não faziam.
Isso porque naquela época, essas grifes produziam apenas acessórios como carteiras e bolsas, então, Dan lançou as bases para o que se tornaria uma tendência dominante: a logomania no universo do streetwear.
Desse modo, suas criações impulsionaram uma revolução na moda de rua e das marcas de luxo, enquanto solidificou seu legado como um visionário da moda.
O dinheiro tira um homem da miséria
Mas não pode arrancar de dentro dele a favela. E foi justamente isso que diferenciou o trabalho de Dapper: sua visão para identificar uma lacuna no mercado da moda de luxo.
Essa lacuna eram os artistas, performers e atletas negros com origens das periferias que estavam envolvidos na cultura crescente do hip-hop e procuravam acessar o luxo e o consumo de alto padrão.
E como os estilos e preferências estéticas desse público não eram atendidos pelas grandes grifes, Dan se destacou entre essa clientela que já tinha meios para adquirir moda de luxo, mas que eram excluídos pelos criadores das marcas de alta costura.
Preenchedo essa lacuna, Dan teve trabalho, afinal, seu ateliê funcionava durante 24 horas por dia ao longo de oito anos, servindo como um ponto de encontro vibrante para artistas negros.
Ou seja, suas criações eram o resultado da fusão das preferências de modelagem distintas adotadas pelos artistas do Harlem com a exclusividade das grifes de alta costura, resultando em uma estética nova, autêntica e inesquecível.
Um empurrãozinho de Mike Tayson
O lutador Mike Tyson é um nome importante quando falamos sobre a trajetória e destaque de Dapper Dan no mundo da moda.
Isso porque, em 1988, o New York Times divulgou um episódio de confronto entre Tyson e seu rival Mitch Green, em frente à loja de Dapper no Harlem.
O jornal capturou Tyson exibindo sua recém-adquirida jaqueta de couro branco estampada com a frase ““Don’t believe the hype””, uma peça produzida por Dapper, que Tyson ostentou com orgulho durante a coletiva de imprensa na manhã seguinte ao episódio, dando ainda mais visibilidade ao trabalho do estilista.
É compromisso, não é viagem
A inauguração da Dapper Dan’s Boutique em 1982 marcou um momento crucial para o hip-hop, que estava prestes a entrar em sua era de ouro.
Isso porque o estilo musical andava de mãos dadas com a moda, propagando uma nova e crescente estética visual.
Aqui, podemos citar algumas criações e tendências únicas do estilo, como roupas esportivas usadas no dia a dia, acessórios extravagantes, como correntes de ouro e prata, a cultura do tênis e, claro, graças a Dapper Dan, a febre da logomania nas roupas.
Assim, naquele período, ter um lançamento da Adidas nos pés e uma jaqueta preenchida com vários logotipos da Louis Vuitton era uma maneira de exibir o sucesso de um rapper.
Esse auge do hip-hop na década de 1980 tornou Dan um dos estilistas mais procurados e queridos do gênero.
E neste período, uma das criações mais notáveis do estilista foi uma jaqueta volumosa de pele com o padrão da Louis Vuitton nas mangas, originalmente feita para a atleta olímpica Diane Dixon, em 1989.
Espalhando a palavra da logomania no hip-hop
A logomania é uma das principais criações de Dan e uma das principais características do streetwear.
E ela também marca um período em que a comunidade negra começou a prosperar graças ao hip-hop, que colaborou com uma ascenção dos artistas do meio, que em sua maioria eram negros.
Deste modo, com um aumento no poder de compra, eles optam por vestir roupas de grifes e falar sobre essa ostentação em suas músicas.
Isso não tratava-se só de exibir riqueza, mas de reivindicar pertencimento.
Afinal, se os negros são excluídos de certos espaços, mas conseguem penetrá-los conforme o hip-hop abre portas e ganha mais força, a ostentação era uma forma de provar que agora eles circulam nos mesmos círculos que os homens brancos ricos.
E ao mesmo tempo que isso acontecia, os artistas negros faziam questão de construir uma estética de riqueza própria, ridicularizando o luxo e deixando claro que, apesar de terem conquistado seu lugar, não desejam se igualar aos homens brancos.
Tudo isso colaborou para a criação de uma nova forma de usar roupas de grife, influenciada em grande parte pelas criações de Dapper Dan, como a logomania.
Vai se criando um clima terrível
Embora esse sucesso da união de moda de luxo e cultura negra estivesse em alta graças a Dan, as grandes casas de moda da época não davam a devida atenção a esse fenômeno.
Na verdade, pouco a pouco elas começaram a se incomodar com o sucesso de Dapper, principalmente porque seus designs eram criados sem a permissão delas.
Logo, o uso ilegal de logotipos e monogramas acabou se tornando alvo de operações de falsificação.
Um Dapper Dan incomoda muita Gucci
No auge de sua popularidade, a Gucci tomou medidas legais contra Dapper Dan em 1992, por conta do uso não autorizado de sua marca nas criações do estilista.
O processo movido pela grife levou ao fechamento da loja de Dan, o retirando da cena pública por mais de vinte anos.
Aquela era uma época que a moda de luxo não reconhecia e não se importava com o público das ruas, principalmente a comunidade negra.
Grandes empresas, pequenas apropriações
Em 2017, a Gucci foi acusada de apropriação cultural e o nome de Dapper Dan voltou à cena da moda de luxo.
O contexto da história envolvia Alessandro Michele, diretor criativo da Gucci, apresentando um desfile com uma jaqueta com mangas exuberantes e o logotipo da marca.
A criação era extremamente semelhante à criação de Dapper Dan em 1988.
Essa semelhança não passou despercebida, principalmente nas redes sociais, que levantou a questão da grife italiana estar se aproveitando de Dapper Dan sem levar em conta as consequências que ele mesmo enfrentou no passado por usar o logo da Gucci sem autorização.
Ao ser confrotada sobre a apropriação da criação de um estilista negro que no passado foi processo pela marca, a Gucci reconheceu Dan como uma fonte de inspiração e o convidou para uma colaboração.
Essa atitude trouxe o trabalho do icônico alfaiate do Harlem para as principais semanas de moda pela primeira vez.
Pretos no topo sem morte ou julgamento
No ano seguinte, após o convite da Gucci para colaborar com Dapper Dan, a coleção de inverno da marca apresentou uma máscara de esqui que remetia à blackface.
Dan foi surpreendido pela produção da Gucci e expressou sua indignação com a grife pelas redes sociais.
“Sou um homem negro frente a uma marca. Não há desculpa que apague esse tipo de insulto”.
No contexto da indústria da moda, onde a influência e a liderança foram historicamente dominadas por figuras brancas, a presença de Dapper Dan na Gucci marcou uma mudança significativa, principalmente nesse caso.
Como um homem negro e pioneiro da moda urbana, Dan sabe do seu papel de posicionar como uma voz que merece ser ouvida.
Além do mais, sua colaboração com a Gucci enfatizou a importância da diversidade e inclusão e serviu como um poderoso lembrete da necessidade de reconhecer e respeitar as raízes culturais diversas que moldam a indústria da moda contemporânea.
Dinheiro, problemas, invejas, luxo, fama
Quando Dapper Dan surgiu na moda em 1980, o universo do luxo não se interessava por pessoas negras.
As produções ignoravam qualquer vestígio da cultura negra, tanto é que nem mesmo roupas com tamanhos para esse público eram produzidas.
Foi o trabalho de Dan e sua boutique no Harlem que provocaram uma mudança neste cenário, mesmo após ele ser processado pela Gucci.
Portanto, se hoje podemos celebrar nomes como Kanye West, Rihanna, Beyoncé, Pharrell, Virgil Abloh, entre tantas outras pessoas negras fazendo história na moda de luxo, devemos isso a Dan, que abriu as portas deste universo para os nossos.
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