FEITO POR PRETO

Resgatando e registrando a moda feita por nós

O streetwear e cultura negra tem relação porque o estilo nasceu do povo preto, principalmente de periferia. Entender a história destas roupas despojadas, que hoje estão em alta, é dar o devido reconhecimento aos seus criadores, que geralmente são desconsiderados na moda ‑ e em sociedade de forma geral.


O que é o streetwear?

Streetwear se trata de um estilo urbano, de roupas casuais, geralmente levando roupas esportivas para os looks do dia a dia. Moletons, roupas largas, tênis, jaquetas grandes, corta‑ventos, bomber‑jackets, bermuda biker, bonés e a logomania são itens que fazem parte desse movimento.

História do streetwear e cultura negra

O estilo nasceu junto com o hip hop, nos anos 1980. Foi um efeito dos anos 50 e 60, quando o gênero musical ainda estava no começo, em meio às gangues de rua do Bronx, em NY. Os rappers frequentemente apareciam com as roupas citadas acima, despertando o interesse nos jovens negros que admiravam esses cantores.

Personalidades que disseminaram o streetwear

Os bonés chegaram ao auge quando o rapper Tupac passou a usá‑los em videoclipes. A popularização do tênis teve muita influência do basquete, principalmente quando Michael Jordan lançou sua coleção exclusiva com a Nike, tornando o Air Jordan um dos sapatos mais procurados em 1985, dando início à cultura do tênis que vivemos hoje, o inserindo em looks de trabalho e festas.

A tendência da logomania, que dá ênfase ao logo de uma marca em uma roupa, também têm raízes da cultura negra. Foi o designer Dapper Dan, morador do Harlem, que passou a fazer peças cheias de logos de marcas de luxo e vender as réplicas para a comunidade periférica. Ele chegou a ser processado pela Gucci na época, mas posteriormente Dapper acusou a grife de plágio de sua criação, por adotar a logomania em suas roupas. Em 2018 a grife se rendeu ao sucesso da logomania e fechou uma coleção em parceria com Dapper.

streetwear e cultura negra

Streetwear e cultura negra no Brasil

Por aqui o estilo chegou com a dança de rua, por volta de 1985. Havia uma forte influência norte‑americana em sua vinda e nomes de peso adotaram o streetwear, como Sandra de Sá, Thaíde, Racionais MCs e Negra Li.

streetwear e cultura negra no brasil

O valor do streetwear na moda

O streetwear representa 10% de todo o mercado global de vestuário e calçados, totalizando o valor de US $ 185 bilhões em vendas somente em 2019, segundo a consultoria PricewaterhouseCoopers. 80% desses consumidores apontaram a @supremenewyork@nike@off____white e @adidas como marcas que representavam o estilo.

As marcas de streetwear da atualidade

Apenas uma das quatro marcas citadas acima tem um CEO negro (Off‑white), enfatizando a atual apropriação do estilo, o tornando dominado por homens brancos e ignorando suas raízes da cultura negra. 

É notável também o apagamento da representatividade quando nomes como Kayne West são ignorados pela mídia e público ao falar do estilo, uma vez que o rapper foi responsável por inserir o streetwear e cultura negra na moda de luxo com sua marca @yeezymafia.

Sob o olhar sanguinário do vigia

O embranquecimento do estilo não se trata apenas da apropriação, mas também nos apresenta aos olhares punitivos que pessoas negras recebem ao usar um estilo despojado, mesmo que criado por eles. Um exemplo disso é o caso do assassinato de Trayvon Martin, o jovem negro de 17 anos que foi morto a tiros enquanto andava de moletom e capuz pelas ruas de Miami em 2012.

George Zimmerman, o segurança responsável por sua morte, alegou que considerou o jovem uma ameaça justamente por ele estar com essa roupa. Na TV, jornalistas como Geraldo Rivera afirmaram que  “o moletom é tão responsável pela morte de Trayvon Martin quanto George Zimmerman foi (…) é “bom senso” que as minorias evitem usar moletons.” 

Reconhecimento: será que essa moda pega?

O streetwear é um acontecimento raro da moda, em que uma tendência nasce debaixo para cima, ou seja, o povo coloca nos holofotes uma moda elaborada por eles. A população negra criou este estilo do zero, o que não significa que só negros podem o usar, afinal, o intuito do streetwear é ir contra o tradicional ao se vestir, priorizando o conforto e a liberdade do corpo.

O que não podemos esquecer é que o movimento é o resultado da cultura do hip‑hop, com raízes da cultura negra, e ao chegar na elite branca da indústria da moda ele deixou de ser democrático, inacessível financeiramente à comunidade periférica, teve seu passado apagado e é usado contra os negros. A reflexão que fica é: ame e respeite pessoas negras como você ama e consome a cultura preta.

Streetwear e cultura negra: perguntas frequentes

O que é moda streetwear?
R: A moda streetwear é um estilo casual, confortável e voltado para o dia a dia. As peças de roupa geralmente incluem camisetas, moletons, calças largas, jaquetas, bonés e tênis.

Além disso, a estética é marcada por logotipos, estampas gráficas, letras e números, que muitas vezes são exibidos de forma proeminente nas roupas.

Qual a origem do streetwear?
R: A origem do streetwear tem ligação direta com o hip-hop e pela cultura do rap.

Isso porque artistas e músicos do gênero, como Run-DMC e Beastie Boys, começaram a adotar roupas esportivas e casuais como parte de sua estética e popularizar o estilo.

Quem criou o estilo streetwear?
R: O estilo streetwear não foi criado por uma única pessoa ou marca específica. Ele evoluiu organicamente a partir das subculturas urbanas e das ruas, tendo forte contribuição da cultura negra, periférica e do hip-hop.

Quando o streetwear chegou no Brasil?
R: O streetwear começou a ganhar popularidade no Brasil principalmente a partir dos anos 2000. Embora influências do estilo já pudessem ser vistas antes dessa época, foi a partir dessa década que o streetwear se consolidou como uma tendência forte no país.

Isso porque foi nesse período que marcas internacionais de streetwear, como Stüssy, Supreme e BAPE, começaram a ser importadas e distribuídas em nosso país.

Além disso, o crescimento da cultura hip-hop e a popularização de elementos como o rap, breakdance e grafite também contribuíram para a disseminação do streetwear no Brasil.

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