O tema do Met Gala 2025 foi ‘Superfino: alfaiataria do estilo negro’ e tinha como foco designers de moda negros e o papel histórico da moda feita por pretos.
Deus criou os negros, e os negros criaram o estilo.”
– George C. Wolfe
Foi exatamente essa frase que o ator Colman Domingo citou na prévia do evento para a imprensa na noite de 5 de maio de 2025.
Depois disso, o que vimos no tapete vermelho de um dos maiores eventos de moda e cultura do mundo foi a mais pura excelência negra, repleta de poder e elegância.
Desta vez, boa parte dos convidados se destacou pelos looks e também pelo comprometimento em seguir o tema do Met Gala 2025.
E para deixar você por dentro de tudo sobre essa noite histórica, ao longo deste texto explicaremos sobre as referências dos principais looks, o que é o Dandi Negro que foi homenageado, o impacto político do evento neste momento, bem como detalhes da exposição e do jantar.

Respeito é pra quem tem, estilo é pra quem é
O Met Gala é um dos eventos mais importantes e glamorosos do mundo da moda e acontece anualmente em Nova York, no Metropolitan Museum of Art (The Met) para marcar a abertura da exposição anual do Costume Institute, o departamento de moda do museu.
Organizado pela revista Vogue, sob a curadoria de Anna Wintour, editora-chefe da publicação, o auge do evento é na escadaria da entrada principal do museu, que é transformada em um tapete vermelho memorável para receber as maiores celebridades.
Cada edição tem um tema diferente, e os convidados devem usar roupas que remetam a esse tema, o que faz o evento ser conhecido também como o “Oscar da moda”.
E o foco aqui é justamente o tema do Met Gala 2025: ‘Superfino: alfaiataria do estilo negro’, que pela primeira vez na história foca exclusivamente em designers de moda negros.
Além disso, é a primeira vez, em 155 anos de existência, que o Metropolitan Museum of Art tem uma exposição que destaca a raça.
Para marcar essas realizações inéditas, foi também a primeira vez que todos os copresidentes da Gala e membros do comitê anfitrião do Met Gala eram negros, sendo os copresidentes:
- Colman Domingo;
- Lewis Hamilton;
- Pharrell Williams;
- A$AP Rocky;
- LeBron James.
E os membros do comitê anfitrião:
- Doechii;
- Usher;
- Chimamanda Ngozi Adichie;
- Simone Biles;
- Edward Enninful;
- Jeremy O. Harris.

Não é questão de luxo, não é questão de cor
“Eu queria encenar uma exposição sobre raça que pudesse usar nossa coleção para contar uma história que estava ausente das discussões tanto dentro quanto fora do museu”, revelou Andrew Bolton, curador responsável pelo Costume Institute sobre o tema do Met Gala 2025.
Esse conceito do ‘Superfino: Alfaiataria do Estilo Negro’ é do livro ‘Escravos da Moda: Dandismo Negro e o Estilo da Identidade Negra Diaspórica’, da autora Monica L. Miller.
Mônica, além de ser autora do livro, tornou-se a primeira curadora convidada da exposição e a única curadora negra que trabalhou numa exposição do Met.
Em seu trabalho, ela nos apresenta ao Dândi Negro, um termo que resume o tema do Met Gala 2025 e trata-se do movimento da Inglaterra iluminista em que pessoas negras faziam das roupas uma forma de demonstrar orgulho e resistência depois do período de lutas abolicionistas.
Ao surgir neste cenário, o dandismo negro ganhou forças nos Estados Unidos e no Caribe entre os séculos 18 e 19, marcado principalmente pelo uso da alfaiataria para recuperar a dignidade do povo negro após a escravidão e o colonialismo.

Os preto é chave, abram os portões
Neste estilo que regeu o tema do Met Gala 2025, homens negros usavam roupas semelhantes a de seus opressores, fossem eles seus colonizadores ou segregacionistas, mas davam o seu toque de elegância para desafiar os estereótipos racistas da época que ditavam que homens pretos eram inferiores ou sujos.
Aqui, é importante ressaltarmos que em um primeiro momento, homens negros escravizados eram obrigados a usar roupas iguais a de seus opressores para refletir o status social de seus donos.
Mas, com o surgimento do dandismo negro, isso mudou e eles passaram a adaptar o estilo de homens brancos para si mesmos, com um toque de identidade própria.
Essa reviravolta fez com o que o dandismo negro, tema do Met Gala 2025, se tornasse um estilo marcado por ternos coloridos, sapatos sociais, bengalas, broches, joias, alfaiataria com tecidos finos, chapéus e gravatas extravagantes, assim como no movimento La Sape, que ocorreu no Congo.
Neste contexto, um nome importante merece ser destacado: Olaudah Equiano.
Ele foi um homem escravizado da África Ocidental, que em 1766 comprou sua alforria e, para dançar sua liberdade, gastou mais de oito libras do seu dinheiro com terno e roupas finas.

Como se fosse a noite, cê vê tudo preto
O tema do Met Gala 2025 abraçou pessoas negras além das roupas do tapete vermelho e da exposição do Metropolitan Museum of Art.
O jantar, servido às celebridades quando entram no evento, teve curadoria do chef nigeriano-americano Kwame Onwuachi.
O espaço da exposição, montado apenas para a noite do Met Gala, foi projetado por Torkwase Dyson, uma artista negra que ganhou reconhecimento com suas esculturas de cabeças e máscaras africanas.
E o Tyler Mitchell, primeiro fotógrafo negro a clicar uma capa da Vogue, foi o responsável pelo catálogo oficial da exposição.
Diante de todo esse movimento, é possível notar que todo o planejamento do evento tem um forte viés político. Vamos entender qual é ele?

Entre o sucesso e a lama
Nos Estados Unidos, o clima político atual é de redução da diversidade na agenda cultural.
Por exemplo, o atual presidente, Donald Trump, assinou este ano uma ordem executiva que exige a pausa temporária no financiamento de exposições que dividem os americanos por raça nos museus Smithsonian.
Além disso, o governo de Trump teve autorização temporária para banir programas de diversidade, equidade e inclusão em agências governamentais e empresas que prestam serviço para órgãos federais.
Portanto, em um momento em que o país vive a expansão do conservadorismo, o tema do Met Gala 2025 e toda a exposição do Museu com foco em pessoas negras carregam uma força simbólica.
Bem como pontuou a comunicadora Nathalia Evelyn, em sua plataforma Doses de Impacto:
“A narrativa empírica e factual que o capitalismo, a escravidão e o colonialismo são as forças que moldaram nosso mundo contemporâneo é o tipo de história que Trump e muitos de seus aliados gostariam de eliminar de museus, salas de aula e de todas as outras esferas não só da vida americana, mas também com um olhar global.”

Tô no tapete vermelho e não é de sangue
Agora, ao falarmos sobre a celebração do dandismo negro como tema do Met Gala 2025, alguns trajes roubaram a cena, como o do coanfitrião Colman Domingo, que usou dois looks da Valentino.
Em seu look de chegada, ele homenageou André Leon Talley, o primeiro homem negro a ocupar o cargo de editor-chefe da Vogue americana, que faleceu em 2022.

Ao tirar a capa, ele revelou o seu segundo outfit da noite: um casaco de lã xadrez com ombreiras marcadas, uma calça de alfaiataria, uma gravata de polka dots e um alfinete de flor extravagante.
Outro look que carregava história e estava de acordo com o tema do Met Gala 2025 foi o de Rihanna, que escolheu um terno de Marc Jacobs que remetia aos ternos Zoot do Renascimento do Harlem.

Esses modelos de ternos eram usados por homens negros e latinos em festas, clubes de jazz e encontros sociais como símbolo de afirmação cultural, estilo e resistência, sendo um marco na moda masculina durante o Renascimento do Harlem, especialmente entre as décadas de 1920 e 1940.
Pharrell Willians, Diretor Criativo Masculino da Louis Vuitton, usou um paletó branco trespassado desenhado por ele mesmo para a marca, que contavam com generosas 15.000 pérolas costuradas à mão, uma referência aos acessórios que escravizados inseriam em seus uniformes.

A Doechii também entregou referência, principalmente em seu lenço de seda amarrado no pescoço em formato de gravata borboleta exagerada e em seu terno estampado com o logotipo da Louis Vuitton, uma referência ao trabalho de Dapper Dan, estilista que abriu portas para que diversas figuras negras se destacassem na moda de luxo.

Outros acessórios característicos do estilo dândi negro foram muito bem utilizados por celebridades negras, como os chapéus elegantes e gigantes, usados por Zendaya, Lupita Nyong’o, Shaboozey E Turner-Smith, e a bengala, presente no look de A$AP Rocky.


Eu visto preto por dentro e por fora
Embora não fosse parte do estilo dândri negro, um item em especial brilhou muito no sorriso das celebridades do Met Gala 2025: o Grillz.
Criado por imigrantes da diáspora africana que moravam em bairros periféricos de Nova York, como Bronx e Brooklyn, e popularizados por artistas negros do Hip-Hop que tinham nascido na periferia e carregavam o estilo de seus bairros consigo, o Grillz também tem seu peso cultural ao ser usado no Met Gala.
A$AP Rocky, Doechii, Shaboozey, Anok Yai, Pharrell Williams são alguns dos nomes que escolheram usar o acessório nesta noite.
Crédito do vídeo: Luiza Chao
O dono do mundo agora é preto. Tá sabendo disso?
Em meio ao luxo e brilho que cercaram o tema do Met Gala 2025, é preciso frisar a homenagem ao estilo negro, que carrega consigo uma história de resistência, afirmação e reconstrução identitária.
A noite do dia 5 de maio de 2025 precisa ser lembrada além das roupas elegantes, afinal, ela representou uma maneira de reivindicar espaço, poder e visibilidade em uma sociedade que, historicamente, tentou apagar presenças negras da moda e de todos os outros meios sociais.
Assim, ao conectar passado e presente, o Met Gala 2025 provou que o estilo, para a comunidade negra, é uma forma de libertação, de resgatar seu orgulho e dar outro sentido pra frase “tinha que ser preto.”

Conheça as músicas feitas por pretos usadas de referência nos títulos e subtítulos deste artigo:
- Sabotage – O Gatilho
- Racionais MC’s – Vida Loka, Pt. 2
- Emicida part. Rael – Beira de Piscina
- Tasha e Tracie – Arrume-se Comigo
- Racionais MC’s – Negro Drama
- Rincon Sapiência – Ponta de Lança