A coisa ficou preta na SPFW
A coisa ficou preta na passarela da São Paulo Fashion Week no último sábado (20/11), dia da Consciência Negra. Na data, só estilistas negros se apresentaram, com destaque para a marca @mile.lab, da estilista paulistana Milena Nascimento (@mile.nx) que levou a cultura da quebrada para o local.
Aqui não é GTA, é pior, é Grajaú
Cria do Grajaú, Milena construiu sua marca com foco no ativismo e estilo periférico. Seu desfile foi um um misto de manifesto e desabafo. “Hoje, camisetas amarradas no rosto representam a perspectiva da branquitude perante o nosso corpo: suspeito, é como eles nos enxergam no seu imaginário. É na blitz, no shopping, na rua que eles veem um potencial presidiário.”, proclamou a estilista em seu discurso.
Um olhar para o futuro
A coleção apresentada se chama “Fluxo Milenar” e trabalha em cima do afrofuturismo, se propondo a imaginar como seria um baile funk daqui a 10, 20, 30 anos, quando a periferia finalmente passaria por uma transformação e teria suas raízes respeitadas e valorizadas.
Pequenos grandes detalhes
Dois elementos marcaram a apresentação, sendo o primeiro deles a pipa, que segundo a marca, decora os céus periféricos e dificilmente está presente em regiões centrais, fazendo parte da cultura e estética das quebradas. As pipas carregavam escritas como: “Marginal”, “Grajaú” e “Sobrevivi ao inferno”.
Funk é filho do gueto
O segundo elemento foi o funk, responsável por alavancar a autoestima da população periférica, permitindo que seus estilos de roupa, gírias e danças sejam exaltados através das letras e batidas. “O funk é a trilha sonora da favela do futuro, é o ritmo do fluxo milenar.”, declarou a marca.
É o estilo favela e o respeito por ela
O desfile em si foi uma performance de liberdade assim que cada modelo entrava. Ao som do funk, eles dançavam como se estivessem nos bailes de favela, com passinhos, sarradas, quadradinhos e rebolados até o chão. No corpo, carregavam o estilo chavoso da quebrada, com óculos juliet, correntes de ouro, cabelos e barbas descoloridos, a diversidade de penteados da cultura negra e roupas da @mile.lab, é claro.
Favela chegou
O desfile ainda contou com discurso de @_brenoluan, membro da marca e poeta, que em sua fala provocou a onda superficial de antirracismo nas redes sociais, a apropriação de criações da cultura negra por parte de brancos e as instituições que abrem cotas só para se dizerem apoiadores da diversidade ‑ como o próprio SPFW. “Minha moda não é só mais uma, meu conceito é de rua e isso vocês não vai entender. É os favelados vencendo, se acostuma.”
O desfile completo você encontra no YouTube e no site oficial da São Paulo Fashion Week. As roupas podem ser compradas no site da @mile.lab disponível na bio do Instagram da marca.